Nos últimos dias tenho lido notas e matérias
provenientes de diversas consciências e produzidas por várias canetas, sobre o
fato de o ex-presidente José Sarney ter resolvido não mais colocar o seu nome à
disposição do estado do Amapá para representá-lo no Senado Federal.
Para quem não sabe o Senado, órgão que Sarney
já presidiu em quatro oportunidades, é a casa legislativa que segundo a
constituição federal representa a federação brasileira, os Estados e o Distrito
Federal, enquanto a Câmara dos Deputados representa do nosso povo.
Essa gente maledicente insiste em
desqualificar José Sarney. Desqualificam o homem, o escritor e o político,
quando o que deveriam fazer era enfrentá-lo em cada uma dessas frentes,de
maneira honrada, franca, republicana e democrática.
Insultam e difamam um homem que em sua
primeira eleição ficou na primeira suplência, igual a tantos outros; difamam
alguém que se elegeudeputado federal e sobressaiu-se entre seus pares, formando
uma forte liderança numa época em que o nosso estado ainda vivia defasado em um
século; governou o Maranhão e realizou obras de tamanha importância que ainda
hoje passados quase cinquenta anos, uma delas ainda não foi superada e acredito
que tão cedo será – o Porto do Itaqui.
Hábil, bem relacionado, inteligente, culto e
sobre tudo sortudo, passou a ser figura de importante relevo a nível nacional; presidente de partidos
importantes, desenvolveu uma capacidade diplomática invejável que o fez estar
no cerne de todas as questões nacionais, que possibilitou ser guinado à presidência
da república em substituição a Tancredo Neves que faleceu antes de assumir o
cargo. Essa capacidade diplomática consistia mais em ouvir do que em falar,
mais em esperar que os outros se posicionassem do que em se posicionar antes
dos outros. Essa forma de agir somada a sua imensa sorte, deu bastante certo
por muito tempo.
A mitologia em torno desse Ribamar é tamanha
que atribuem a ele a morte de Tancredo. Sarney teria usado macumbeiros
maranhenses para fazer com que sapos cururus repuxassem as
entranhas do velho mineiro, matando-o. E o que é pior, tem gente idiota que
acredita nisso. Nas duas coisas. Que Sarney mandou fazer o serviço e que
fizeram.
Como presidente, Sarney tinha, segundo a
constituição vigente, um mandato de seis anos. Ele o viu diminuído em um ano,
mas pareceu que lutou para aumentá-lo. Alguns não sabem e outros preferem
esquecer o quanto Fernando Henrique Cardoso teve que fazer para aprovar uma
emenda à constituição, que ele mesmo havia ajudado a redigir, no sentido de
permitir-lhe ter mais quatro anos de mandato presidencial. E falam do Sarney!
José governou o Brasil num tempo em que
enfrentávamos dois grandes adversários, o monstro da inflação e o perigo da
instabilidade democrática.
Mais
competente como político que como gestor financeiro, ele fez executar quatro planos econômicos, um deles de grande eficácia,
mesmo que temporária, fato que garantiu certaestabilidade financeira ao país por tempo suficiente
para que o PMDB, nas mãos de Ulisses Guimarães, elegesse 27 governadores de
Estado.
Decretou a moratória de nossa dívida, fato que
conteve em parte a debandada de capital, e com essa e outras medidasantipáticas
garantiu a estabilidade democrática capaz de em seguida, tendo mantido estável
o regime democrático em seu período mais delicado, eleger de forma direta nosso
primeiro presidente em muitos anos. A mesma estabilidade que foi responsável
por destituir esse mesmo presidente do cargo sem que nada acontecesse ao regime
democrático e a forma de governo republicana.
Mas
deixemos tudo isso para lá e nos concentremos no fato de Sarney não mais
concorrer a um mandato eletivo.
Todos já sabiam que Sarney não mais seria
candidato a nenhum cargo eletivo. Até eu mesmo que sou o mais tolo entre os
articulistas deste assunto já havia comentado sobre isso, disse para alguns
amigos que Sarney iria fazer tal qual o padre Vieira, que com avançada idade
dedicou-se integralmente a literatura e as suas memórias. Sarney iria agregar à
essas dedicações a sua família, sua mulher, seus netos e bisnetos.
O que a mídia nacional, a grande, a média, a pequena e a mínima,
tenta fazer é imputar a um homem de 85 anos, que dedicou 60 deles a trabalhar
pelo Maranhão, pelo Amapá e pelo Brasil, uma derrota pelo fato de ter resolvido
não mais se candidatar. Querem fazer crer que Sarney tinha obrigação de, mesmo
indo contra a sua natureza física,se apresentar na linha de frente da batalha política e se
candidatar a mais um mandato de senador. Ora me comprem um bode! Eu iria ficar
muito insatisfeito se ele resolvesse que iria se candidatar, pois nós,
maranhenses, amapaenses e brasileiros de todas as naturalidades precisamos dele
e de homens como ele acima da política, sem mandato eletivo, mas com o mandato
proveniente do respeito que pessoas como ele devem ter de nossa gente.
São
personalidades como José Sarney que dão a dimensão de valor que deve ter uma
nação e seu povo.
Pode
quem quiser discordar dele e até não gostar dele, isso faz parte da vida, mas
ninguém pode desconhecer o grande valor que ele teve, tem e terá em nossa história.
Por Joaquim Haickel